domingo, 27 de maio de 2018

não quero te julgar por falta de amor ao nosso par,
me afastei porque agora seu amor é sobre si
e o meu ainda sobre nós. 

Saudade, eu te matei de fome.

toda vez eu penso como outra pessoa pode fazer tanto a nossa cabeça? pode morar na gente de aluguel com contrato longo? mesmo depois que se muda, deixa o cheiro, as marcas dos pés, as roupas usadas e as cores das paredes.
como alguém pode nos pertencer fazendo falta?

calma, Ana.

Hoje é mais um dia que eu tentei, mais um dia que esmaguei meu coração com a minha mente, tentando pensar "tá tudo bem, você vai ficar bem, já passou por isso".
Tentei retirar minha culpa de ter perdido mais alguém que eu amava.
Percebi, em uma das falhas que você já superou, já nem lembra das nossas manhãs de domingo e depois de chorar entre uma sombra de árvore e outra conclui, como muitas vezes, que a vida é muito mais sobre os que se entregam dos que os que saem ilesos.
A vida e a arte é muito mais sobre as cicatrizes.
E se você me diz pra cicatrizar, como quem olha um machucado de outro corpo, eu respondo pra mim mesmo que eu tô viva, entregue, sentindo o que vier.
Escolho apreciar a vida, mesmo na dor, porque meu coração merece.

Me coloco inteira em tudo que vivo.

Uma hora o amor vai bater, e eu vou arrebentar meu mar de novo, espirrar água para tudo quanto é lado.
Arrebento.
Molhar outras pessoas e pedir pra que elas fiquem por perto com um pedaço de mim.
E eu vou pensar que o amor voltou, mas ele nunca foi embora, tava escondido.
O amor por mim mesmo.
Vai vir de dentro pra fora, e transpirar na minha pele com a luz do sol.
Porque meu amor é minha capacidade de resistir, de reviver, de sair lá do mergulho sem pé até a cabeça pra fora d'água.
Respiro.
existem os dias de pé sem chão, ruins, doloridos, agarrados,
mas tem também os dias de boiar no mar, na marola, marota e soltar o corpo, sentir a luz.
Evaporo.
acho que eu tenho feito o que posso com tudo isso,
acho que tenho vivido a vida da melhor forma.

eu sei que tem muito de você no que eu amo,
mas também tem muito de você na sua partida.

capítulo 27 (anos)

precisava desse desamor
pra aprender sobre me amar

Saudades da Morena

se a gente parar de se falar, se nos cortamos pelas raízes, pelo fio que passava coisas do meu coração ao seu,
se tudo isso acontecer,
me manda uma música,
me escreve nos muros da sua cidade
ou me lembre nos seus passeios onde passeamos.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Bordado e os pontos que a gente aprende...

Observei os bordados que você me deu, fiquei pensando na agulha que você usou para embaraçar
cada pedaço daquilo, pensando no que você sentia enquanto me fazia um presente tão bonito.
As linhas que a gente usou pra chegar nos nós, entre nós agora mais nada, nem nós, nem linhas, nem presentes e presença.
Lembro de olhar para eles há tempos atrás e pensar que a vida era boa sim.
A vida é boa, 2016. Nosso 2017. E vai ser boa 2018, vai sim.
Sei que vou me sentir assim daqui uns anos quando reencontrar seus bordados e seus pontos reticentes no fundo do guarda-roupa.
Sabe, eu reparei, que eu não queria firmar meus pés não, mas eu já quis voar junto, voar sobre os oceanos e o mar de morros, me firmar só no seu peito.
alguns pontos que ficaram sem nó:
Idade só virou problema depois que você não queria. nunca foi tema de nada pra gente, fazia parte do nosso inteiro.
seus olhos e seu cabelo ficam dourados no sol, nunca te disse isso, o resto dos elogios acho que fiz todos. eles vieram de dentro onde eu amadureço cada dia. Tipo aquela cena de Juno que ela fala pra ele "você é de ouro, cara" eu sempre pensei nisso, mas achava brega e é.
escrevo para chegar até meu coração, mas quanto mais me aproximo dele, mais difícil é te deixar.
eu queria meu lápis colorido  só para colorir o cinza que eu insisto em enxergar, verdade ele era uma lembrança boa. 
seu strogonoff é muito bom, mas você não sabe fazer miojo.
eu acho que vi você indo embora, não exatamente, mas eu vi que tava estranho.
eu tentei tudo que podia - e continuo tentando - pra ficar bem e te fazer bem.

eu fui muito feliz com você.
Não existiu fim para as coisas que a gente viveu na alma.


Um mês depois

Porque às vezes eu me achava linda,
linda e enxergava você ali me olhando.
Ou beijando o corpo,
os peitos  (escrevi seios e apaguei, prefiro Peitos)
e a nuca.
Às vezes eu me achava feia mas te achava linda.
Às vezes você acordava com a cara muito inchada,
os olhos pequenos e um puta dengo.
E eu sabia que era exatamente ali que eu queria estar,
seja qual cama fosse, qual cidade fosse, o espaço era blur.
Porque às vezes eu era segura
e no mesmo dia muito insegura.
Não adiantou de nada porque hoje eu perdi.
Nem valeu ficar aflita por insegurança
se era uma coisa inevitável e aconteceu.
Porque você disse, da última vez,
“será que zerei a Pacheco?”
- não, meu amor, porque nem eu me zerei, eu sou mar,
eu sou S sem fim, variação de humor, gentileza
e praticidade.
Eu mudo o tempo todo, mudo de lado, de caminho,
de sentido e de eixo.
E com isso eu aprendi que a segurança tá aqui
com ou sem tu. Dentro de mim, onde eu cresço a
cada choro e a cada sorriso.
Tem uma coisa que sempre fica,
mesmo aos pedaços, meu coração, florescendo.
Porque eu cheguei naquela rodoviária
me achando linda, triste e perdida.
Não me achei ainda, mas cada dia me procuro de um jeito
diferente.
De um jeito eu me seguro.

(texto tirado do bloco de notas e escrito no metrô entre
 as estações fradique coutinho e luz da linha amarela
do metrô paulistano no dia
17 de maio de 2018)

Caixa Bela Artes e nosso eixo quebrado.

Você devia ter abandonado nosso filme na metade,
quando a gente foi no Caixa Belas Artes
assistir Como Nossos Pais,
depois da vez que você escreveu pra mim na lista
e a gente viu Eu, Daniel Blake.
(estávamos lindas esse dia e nunca mais te vi
com aquela camisa branca e
flores em tons vermelhos)
Assim não teria sido tão triste
e não nos machucaríamos,
mas você ficou e talvez
porque eu te convenci varias vezes a ficar.
Ou você me convenceu a ir embora na segunda-feira.
Mas eu já entrei topando a parte triste, né?
Já entrei correndo os riscos que eu disse que queria,
eram esses:
me entregar de corpo
alma e
eixo.
Depois te assistir sair de cena.
Aos poucos e de uma vez.
Assistir os créditos na estrada das nossas viagens de
Cometa.
Nosso filme triste estilo
Coppola e Spike ou a música Janta. San Junipero.
Mas o amor, meu bem, ensina a gente a deixar doer.
A deixar ir, como as salas de cinema.

(texto tirado do bloco de notas e escrito no metrô 18 de maio de 2018)

sexta-feira, 11 de maio de 2018

MAIO 2018

Voltei umas 10 casas do nosso amor pra entender o que aconteceu e a única resposta que encontrei foi o tempo. O desgaste da tigela do shrek, lembra? 
Esse mesmo tempo que me agarro agora pra deixar que as coisas se ajeitem. 
Tem gente que me diz que se for pra ser, será. Só que nessa hora a gente tem que pensar que não foi pra ser, não mais. 
Ouço aquela música Sufoco - do mesmo Silva que já embalou tanto nossos dias contados - e agora me dá força pra conseguir passar mais essas horas aceitando. 
Lembro das suas mãos em concha no meu rosto levando meus olhos aos seus, como se ali já não fosse o lugar preferido do meu olhar. 
Te reparar sempre foi minha atividade favorita enquanto habitávamos o mesmo espaço. 
Seu jeito de andar, eu sei que não me esqueço, as cores da frequência que você vibra. 
“Eu preferi o amor, isso é como sou”
As mãos dadas na cama mesmo sem ir a lugar nenhum, uma doação de alma, de energia, de troca. 
E o teto projetor de momentos. 
Tem dias que meu coração se acalma e pensar não dói, nesses dias eu gosto de te escrever no meu bloco de notas. Reunir meus momentos preferidos e sorrir sozinha no metrô. 
Concluo voltando ou avançando casas que você é linda/lida em mim.