terça-feira, 31 de maio de 2016

maio quase junho

Entre tantos, meu vício é insistir na impossível missão de escrever o que eu sinto. E eu sinto muito.
Tudo absurdamente biográfico.
Já me emprestaram dores, mas eu tenho o suficiente pra escrever mês a mês como eu me sinto. E eu sinto muito.
Um dia eu morro de tanto viver as coisas na raiz.
E eu prefiro escrever tudo por aqui para não deixar as pessoas que gostam de mim tão desamparadas com a falta que talvez eu faça. Sinto muito por isso.
Eu me preparo todos os dias para morrer.
Essa semana todo mundo escreveu pelo mesmo caso. Eu chorei quando minha mãe me contou eu sinto tanto. A dor do mundo me faz pequena e o mar está longe demais dos meus olhos.
Eu me deparo todos os dias com o viver.
Um dia eu morro de tudo que vivo.
Será que eu aprendo mais na ausência?
Eu comprei uma lua, coloquei na parede do meu quarto. Ela brilha no escuro enquanto eu apago e, sabe, será que um dia eu não acordo com a claridade?

nesse frio
nosso trato
uma ideia mansa me acoberta
você sendo minha
coberta

terça-feira, 17 de maio de 2016

17 de maio

Hoje é dia mundial contra Homofobia.
Eu nunca fiz relatos escritos por aqui, mas pelos meus textos dá para saber que eu sou homossexual ou lésbica como eu prefiro dizer. E não é por isso que eu tento todos os dias me livrar e desconstruir cada preconceito dentro de mim sobre tudo não só sobre isso. Tem muito homossexual carregado de preconceito até contra si mesmo.
Minha família foi crescendo comigo eu nunca precisei pedir permissão para ser algo que eu simplesmente sou. Imagino que deve ser dolorido demais viver dentro de casa sem se sentir em um lar.
Meus amigos continuaram meus amigos e os que foram chegando sabiam exatamente com quem estavam se relacionando e eu tenho muito orgulho de desconstruir muita coisa na cabeça de alguns deles.
Já tive momentos na vida que reproduzi a frase "se eu pudesse escolher seria hetero é tudo tão mais fácil" mas o crescimento e a percepção me fez reparar que eu só sou o que sou por causa de tudo isso.
E eu não trocaria nenhuma das mulheres que eu me relacionei. Eu não trocaria nenhuma experiência de amor. Se eu pudesse escolher eu seria exatamente o que eu sou.
Eu não trocaria nem as paixões que eu tive por meninas heterossexuais que não importa o que eu faça nunca ficariam comigo. Eu sou parte de um todo.
E estou muito emocionada de escrever isso.
Me desculpe se aqui não tem um relato de sofrimento de não aceitação, é que eu sempre me aceitei tão bem e minha mãe que poderia ter escrito o texto "Sim. Eu gostaria que meu filho fosse homossexual"
Eu só quero que mais pessoas não precisem sair do armário como eu nunca precisei. Que elas só sejam elas.
Muito obrigada aos meus pais, meus irmãos, minhas tias e meus primos.
Só o amor derruba a violência.

Maio

Ontem eu vi umas fotos suas e você se fez constante na minha cabeça de novo. 
Fazia tempo que eu não via seu sorriso com dentes firmes e olhos grandes de jabuticaba. Me lembrei de você do nosso encaixe que já não se encaixa mais. Eu não gosto de voltar em você porque tudo fica maior e mais vazio. 
Minha cama dobra de tamanho e o dia se faz maior. 
Nada te preenche.
Você é tipo aquele livro que eu leio mais de uma vez e preencho as bordas com lembranças, ressalvas e algumas lágrimas. Livro que eu guardo no fundo da estante para não lembrar só de olhar, mas que eu nunca me esqueço de lembrar.
Você é o que sempre fica enquanto todo mundo passa.
Meu pedaço de pra sempre nosso adeus é linearmente dolorido.