domingo, 27 de setembro de 2015

Shuffle

Foi na janela do metrô que eu vi meu próprio reflexo, era final do dia e eu estava cansada, mas você apareceu naquela música,  tão aleatória como o modo que eu coloquei para tocar a lista. Então eu te fiz mais um bloco de notas sem final e sem assinar, há meses que eu não te endereçava palavras, há meses que eu nem te sonho. Mas quando você arrepia meu pescoço como antes, eu te deixo algumas rimas.
Deu para ver pelo reflexo que minha boca escapava um meio sorriso.
E sobre escape, meu amor, você é minha maior referência.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Coisas da Ana

Quando eu era pequena eu sempre via meu irmão andar sem camisa pela casa e eu sempre quis fazer igual, mas por algum motivo que nunca entendi qual era todo mundo mandava eu colocar a camiseta.
Minha mãe nunca reprimiu nenhuma coisa que eu fizesse, mas eu me sentia mal porque que não via nem minha irmã mais velha nem as outras meninas andar sem camisa por aí, já os meninos, aqueles que eu sempre invejei a liberdade, sim.
Hoje, anos depois de eu usar minha primeira cueca, eu andei sem camisa pela casa o dia todo.
Foi tão libertador, minha mãe não achou estranho, assim como ela nunca mandou eu "sentar igual menina"ou fazer "coisas de menina" ela sempre entendeu que as coisas que faço são só as "coisas da ana".
Ainda quando eu era pequena, minha mãe conta rindo que minha tia sempre tentava colocar coisas no meu cabelo para "parecer menininha"e um dia eu com 3 anos gritei aos quatro cantos da sala da casa da minha Vó "eu não aguento mais isso! lacinho!presilha! não vou usar nada". Sobre meu cabelo também, eu lembro que todo ano a gente tirava foto no Colégio e eu lembro que minha professora da terceira série me disse "vem cá vou pentear seu cabelo, uma menina não pode andar com o cabelo sem pentear por aí". Foi o ano que eu menos gostei de mim naquelas fotos e pedi para o meu pai não comprar dessa vez. E já ouvi várias vezes "tão bonito o cabelo da Ana pena que ela não sabe cuidar" até que eu aprendi a "cuidar" de um jeito que eu gosto sem pentear sempre e a única coisa que eu faço é um coque as vezes e acho que meu cabelo é meu maior charme, fora os olhos quase vesgos que eu nunca quis operar.
A sociedade fode tanto com a cabeça das meninas que nem sempre elas andam como querem, elas só vão na onda errada de ser o que a gente não é.
Eu sempre quis fazer mais as coisas do meu irmão do que da minha irmã, nunca fui a garota penteada do colégio e nem vou ser a mulher que eles querem que eu seja para ser mulher. Pra mim não existe coisa de menino ou menina, existe o que estou com vontade de fazer.
Isso aqui é coisa minha e pronto.