quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A velha e o moleque (da série negando estereótipos)

Ela fuma um cigarro por dia, isso depois de ter perdido o segundo filho.
Toma três xícaras de café, depois da quarta vez que faz xixi.
Ele odeia cheiro de cigarro, mas fuma maconha todas as sextas-feiras depois de trabalhar e buscar a filha na escola, deixa a menina com a mãe e bebe cinco cervejas, fumando dois baseados com os amigos. Compartilhando baba e brisa.
Os sapatos vermelhos já não lhe caem tão bem, mas ela insiste em usar.
Tropeçou em meio avenida mais movimentada da cidade e deixou o único cigarro cair.
Viu uma mulher cair em meio a calçada e as pessoas quase pisando nela, como se fizesse parte do chão que as pessoas pisam todos os dias para alimentar a pressa que nem existe. Tentou ajudá-la, mas disse alguma coisa que ela não gostou.
Se levantou com pressa e ficou irritada com um menino que a chamou de "Senhora, quer ajuda?", saiu resmungando "Senhora é a senhora sua mãe, seu moleque".
Atravessou a rua e encontrou os amigos,  contou da pobre mulher de sapatos vermelhos, os amigos riram, ele pediu a primeira das cinco cervejas.
Parou na banca e decidiu fumar mais um cigarro naquele dia.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Seguro o mundo não seguro.

Milhas de distância, milhares de minutos sem você,
me lembrando de você mesmo quando não quero.
Meu amor vive no litoral e eu moro longe do mar.
Mas você nunca fica tão longe de mim.
Passa tempo.

Eu passo muito tempo em mim
e as vezes é difícil sair.
Difícil me "externar" aqui.

Passa logo
Me mantenho ocupada
para esquecer.
Paro.

me lembro de você.

Passou
O mundo todo fora de lugar.


Abraços Partidos.

Ninguém gosta de partir corações.
Ninguém gosta de partir corações que nem tinha, ou partir alguém sem nem chegar ao coração.
Pequenos pedaços seus expostos para mim, me dizendo coisas que não sabemos a real proporção.
Me deixou tão surpresa que esses dias tenho me martilizado e pensado em você, mais do que em qualquer pessoa. Não é dó, nem pena, porque tudo me pareceu demais, mas quando alguém surpreende o momento fica inesquecível.
A gente é proibido. O proibido não muito atrativo, já que tudo que penso são nas consequencias que eu não quero.
Um pouco que morre em mim, só a morte vai reviver.
E de arrependimento eu morro todos os dias.

domingo, 5 de agosto de 2012

Qualquer pergunta que te faça escrever qualquer coisa.

Prólogo

Preencha o espaço em branco, escreva sobre o que pensa, sobre o que faz, do que gosta, quem conhece, coloque uma foto, CPF, RG, o que prefere, do que gosta, quem namora, quem é sua família.
Nossa vida nada mais é que espaços em brancos que a gente vive preenchendo.
Viver é preencher.
Até coração se preenche.

Epígrafe 

Ela não poderia seguir viagem
se não preenchesse a passagem.

Dedicatória
A todos aqueles que me mantém preenchida.
Aqueles que me enchem de vida.

 Capítulo I


Eu estava quase entrando no ônibus, uma viagem simples que eu faço pelo menos dois finais de semana por mês. O moço disse que eu só entraria se preenchesse a passagem com o meu nome e RG, eu preenchi e entrei. Sentei em um banco e preenchi o banco ao lado com a minha mochila.
Coloquei meus fones de ouvido e enquanto ouvia Vanguart comecei a pensar sobre como eu nada mais sou do que espaços que eu preencho. Quantos papéis em branco eles nos mandam? Quantas provas a gente escreve para não reprovar a vida? Quantas anotações nos pertencem?
Nas redes sociais existem sempre um espaço para a gente deixar um comentário, escrever status ou até inventar um verbo nosso para o sinônimo de preencher. "Twittar".
Nas ruas a gente preenche os muros altos que nos impedem de enxergar o outro lado. A gente desenha. Desenhar parece mais bonito, mas o desenho só preenche mesmo.
Na praia a gente escreve na areia o que o próximo pé pisa.
A gente preenche no lazer,
no ofício.
Preencher é um vício.

Capítulo final


Hoje o Dinamite se preenche só com isso.