quarta-feira, 23 de outubro de 2013

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos."

Há quem diga que a gente morre e nasce sozinho, eu discordo.

A gente morre em um acordo
depois de um acorde,
não acorda.

Morrer é sonhar para sempre, é dormir pelo mundo.

Mas quem morre, deixa alma, deixa lembranças, deixa manchas em outras vidas.
E quando a gente morre leva toda a influência que teve no mundo com a gente.

Até nascer de novo.

Por isso não nasce nem morre sozinho.

Mesmo assim, concordo que é difícil viver sozinho.
O meio é sempre mais difícil que o começo e o fim, mas o meio do fim é mais difícil do que viver qualquer coisa.

O meio do fim é quando já se sabe que está no fim, mas ainda o vive porque está preso as lembranças, porque está preso pela alma.
Comparado a uma narrativa, o meio do fim é o clímax.
Comparado a um gráfico, o meio do fim é o maior ponto, em que o gráfico para de subir e começa a descer.
O meio do fim é aquela parte das músicas que vem depois das estrofes e antes do refrão final.
O último beijo, a última noite, mas não o último dia.
Não é "oi" nem "tchau" é o "por que?".
O meio do fim é o motivo do fim.
Já não chora, mas também não sorri.

"Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te."