segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

herança

Eu tirei umas fotos da família esse final de semana e fiquei pensando, será que meus primos vão procurar meu Instagram como eu procuro os álbuns de família?
E meus sobrinhos será que vão fuçar meus perfis como eu fuçava as caixas das minhas tias procurando algum retrato? 
Ou como eu procuro na gaveta mais funda da minha mãe pelas fotos dela e do meu pai quando eles ainda se amavam? 
Nossos  filhos vão procurar nosso Insta e ver o dia que a gente passou a tarde no parque tocando uma viola sem saber que a gente tinha fumado o que a gente não quer que eles fumem. Ou aquelas selfies que eu deveria olhar para a câmera, mas não conseguia tirar os olhos de você.
E nossas cartas de amor serão as declarações feitas por email quando a gente agradecia só pela existência uma da outra, e eles vão acabar vendo como eu amei outras pessoas antes de te encontrar e ver que as mães também sofrem de amor. E que essas coisas doem em todo mundo mesmo. É normal. 

Normal também ver a gente carregando uma lata de cerveja na mão com os olhos caídos e que "não, a gente não é careta desde sempre". 
Talvez eles vejam alguns daquelas vídeos em que eu canto músicas só pensando em você no meu canal do youtube.
Ou os vídeos em que eu gargalhava de rir com os melhores amigos e jurava amor eterno. Amor pleno de amigo, que não se conquista, se encontra, o amor entre amigos nada mais é que o encontro. O acaso que o universo se encarrega de "fazer acontecer" uma hora ou outra.
E vão saber que já terminaram comigo pelo WhatsApp um aplicativo moda da segunda década dos anos 2000.
Minha irmã mais nova vai ver como eu adorava fazer vídeos dela só pra ouvir ela falar bonitinho e vai achar um puta mico tipo aquela foto neném no banheiro que todo mundo deve ter.
Minhas sobrinhas verão que a gente também gosta de putaria quando descobrir nosso tumblr. E vão sentir repulsa, porque os adultos familiares não podem pensar besteira, é estranho. Mas a gente vai explicar que já foi jovem e talvez em algum lugar ainda seja.
E o mais importante é que, não importa como, tudo isso é amor. 
Amor da gente, amor só por viver, isso que a gente carrega quando tá vivo. E talvez eles entendam que só o que a gente quer é o bem deles sempre, mas que as coisas tem que ser vividas e, muitas vezes, doloridas. Do sempre para sempre. 
E nosso pra sempre vai tá aqui registrado e computado dentro da rede. 
A gente ama o movimento, o espaço, a roda, o gingado...




e você? o que você ama?