domingo, 27 de fevereiro de 2011

Quando a gente cresce...


{Quando eu era menor, eu escrevia ao contrário. Defendia a ideia de que, se as palavras fossem do aspiral do caderno para “fora” fugiriam de mim, e as histórias estariam em branco assim que eu virasse as costas. Eu insisti nisso por tempos.  No colégio, a professora dizia que eu num podia ter essa liberdade.
Sorria , quando via as minhas letras ali, soldadinhos magrelos batalhando sem sucesso contra o  aspiral de ferro, que iria guardá-las para sempre. Nunca entendi o porque todo mundo era contra. Quantas letras magras aqueles adultos perdiam, quantas histórias se calavam! Eu era meu primeiro paradoxo, simples e ilegível.Eu sempre fui meu paradoxo. E sou.
Hoje decidi recriar o tempo. Caneta em mãos, papel limpo e um belo aspiral como aliado. Rabisquei as primeiras linhas e voltei os olhos para reler o início da história eterna. E veio aquela tristeza das mais amargas: a saudade de ser como se era. Minhas letras agora me venceram fácil. Percebi que, de cada duas palavras, uma estava lá, virada para o estúpido lado certo, me sorrindo com uma ironia insuportável que eu, quando menor nunca teria sonhado em criar.
A ponto de rasgar aquele rascunho de história, com as letras que em minutos correriam de mim, encontrei o possível desfecho. É que ser simples, como já fomos um dia, é tão difícil que virou absurdo. Preferem  fugir com as letras e omitir as histórias que de fato merecem uma prisão móvel, de carne e vida forte, que lá virem eternas.
Ignoramos quem ainda desenha o sol sorrindo na janela do carro ou em uma A4. Condenamos quem, depois de “crescidinho” ainda teima em ser ilegível, desordenado, imaculado. Pena que não me perguntam mais o que quero ser quando crescer. Perguntem, por favor, porque agora eu tenho resposta

Eu quero ser um desastre.}

e eu ainda prefiro não ter limites quando é só isso que me pedem.