sábado, 9 de maio de 2009

Morte e Modernidade.(ficção)

Depois que vovô morreu, a vovó tem essas crises ela passa horas e horas deitada na cama fazendo uma arma imaginária e depois como se o tiro a acertasse. Ela fingiu bem.
Uma vez ela me contou que encenando tenta contar as balas, e ameniza os rastros de saudade, felicidade e diversão que o vovô trazia para nós.
Eu me lembro aquele dia, ele foi baleado por um mandato de um cara que queria mudar o mundo usando discursos sobre coletividade e liderança.Naquele dia eu lembro de ter o visto pela ultima vez enquanto jogava fliperama com o meu irmão.O ultimo gesto depois da piscada que recebi foi a “passada do pente” nos cabelos brancos.
Quando descobri sai pelas ruas ainda com uma ou duas lágrimas, eles choravam mais. Descontroladamente.
Hoje em dia ao ver a vovó e eles encherem os olhos quando estão no abrigo de nossas lembranças. Eu saio à procura do meu abrigo nas lembranças que tenho dele.
O mundo está revestido de sustentabilidade, conexão e modernidade para os meus filhos. Mas essa modernidade levada pela racionalidade foi a mesma que o levou quando eu mais precisava.

3 dizeres:

Rodolfo disse...

Patriarcas são sábios.

Nay Travassos disse...

"...O ultimo gesto depois da piscada que recebi foi a “passada do pente” nos cabelos brancos..."

Perdi meu avô nem faz um mês direito... Texto meiu que virou pessoal sabes? rsrs
Você escreve muito bem, parabens.

Marcel Hartmann disse...

Quando eu era pequeno, minha vó passava o pente dela nos meus cabelos toda vez que ela vinha aqui (ela mora longe), pra ver se eu tinha piolho. Meu pai dizia que não precisava, mas eu gostava dela mexendo nos meus cabelos.